domingo, 14 de dezembro de 2014

Queques de abóbora e especiarias com crumble de amêndoa

Boa tarde!


Quando penso no Natal lembro-me das grandes mesas na casa da minha avó, onde o meu avô se sentava à cabeceira e os filhos, netos, e bisnetos, maridos e esposas se juntavam numa mesa que ocupava a sala de jantar, corredor e sala de estar, juntando ás vezes mais de 40 pessoas. O presépio e árvore de natal na casa dos meus avós (pequena, verde e com as mesmas decorações á anos - quem não se lembra das fitas grossas roxas que enfeitavam aquela árvore pequenina...) eram sempre preparados por nós dias antes da grande festa, com o avô atento para que tudo ficasse perfeito e não se estragassem as fitas ou os enfeites... afinal os enfeites ainda estavam bons e aquela pequena arvore servia perfeitamente para o que era pretendido!
No dia uma grande azáfama era criada quando as mulheres estavam na cozinha... De um lado as panelonas de batatas, couves e bacalhau, do outro os doces com as rabanadas, o arroz doce e o leite creme (da tata 7, pois claro) e as crianças brincavam (eu lá no meio) entre os risos e ralhetes dos mais velhos porque com tanto espaço na casa acabávamos sempre na cozinha (não só porque estava quentinha mas também porque acabávamos sempre por petiscar isto e aquilo).  Os cheiros esses não me esqueço, e enquanto aqui escrevo lembro-me bem da mistura que agridoce entre o bacalhau cozido e as couves com o arroz doce e a canela... uma mistura de cheiros e sabores que sei que, mesmo vendada, se entrasse hoje nesse dia naquelas cozinhas saberia sem sombra de dúvidas que era Natal.
Tudo pronto e preparado todos se sentavam à mesa (adultos para um lado crianças para o outro) e às duas por três já ninguém percebia o que se dizia, entre francês e português, com os irmãos que tinham acabado de vir de França para o Natal a contar as suas aventuras e a perguntar o que se passava por cá, com os de cá a contar as suas, com os maridos que não percebem o francês a tentar perceber o que X ou Y tinham dito (e estava a desgraça feita quando esses tentavam dizê-lo em português). As conversas acabavam quase sempre no mesmo: a rivalidade saudável entre a França e Portugal (porque Portugal afinal não está assim tão atrasado seja de electrodomésticos ou de contraplacado), e a rivalidade ainda mais engraçada entre a minha aldeia e a terra dos meus avós.
E acreditem, não tenho a menor dúvida que quem quer que entrasse de fora e visse os nossos Natais ia acabar por sair com uma lágrima no canto do olho! Afinal (e digo isto á boca cheia) não há família mais unida do que nós! E ia ver o orgulho do anfitrião da festa, o meu querido avô com a sua boina na cabeça (sempre) que alinhava nas brincadeiras (e por vezes as provocava) sempre com um sorriso nos lábios.
E assim se passava um belo serão entre entradas, o bacalhau e as tão ansiadas sobremesas... 
E depois as prendas... ai essas benditas! Contávamos o minutos para a meia noite e depois... sacos e sacos de prendas (imaginem 40 pessoas ou mais a trocar prendas entre si), entre o tipico pijama da Tata Leta, ás lindas bijuterias, perfumes, roupa... saiamos de lá encantados e felizes, todos felizes!
 E depois (ás 3 da manha) iamos para casa.. porque no dia seguinte era dia de roupa velha na casa dos meus avós e todos nós voltávamos alegres e contentes, com a roupa novinha, para mais um dia de festa.
Hoje em dia já não é igual, mas nunca será sem o meu avô... 
A família continua unida como sempre, mas cresceu e cresceu (agora temos um pic nic de familia anual - que eu infelizmente estando longe já faltei aos últimos 5- em que por vezes somos mais de 100!) e acaba por se dispersar um pouco no Natal porque os netos estão em França, os netos estão em Portugal, desta vez é na casa do marido ou da esposa, etc etc...  E agora há sempre festança na passagem de ano e no pic nic, sendo o Natal uma coisa mais íntima com a família mais próxima... 
Mas nunca me vou esquecer dos Natais passados na casa do meu avô.
E nunca me vou esquecer da mistura de cheiros e sabores desse dia...



Um dos meus blogues de referência, que acompanho quase diariamente é o "Palavras que enchem a Barriga", onde a autora Joana faz comidas e receitas de babar acompanhadas por uma história que por vezes nos faz rir, outras a pensar, e sempre a acreditar que se a conhecermos pessoalmente teríamos tudo para ser grandes amigas.


Por isso mesmo quando vi o desafio lançado, onde (como seria de esperar sendo a Joana a mestra) temos de fazer uma receita de queques inspirada no nosso Natal.. decidi pôr mãos há obra, criar uma receita com várias inspirações mas nenhuma receita e fazer aqueles que já são os queques com cheirinho a Natal.
Estou fora de casa, e o que seria 1 ano depressa se tornaram em 5 anos passados longe da família. Por isso mesmo esta época é para mim ainda mais especial. Estes queques deixaram a cozinham com um cheirinho maravilhoso, têm um aroma e textura deliciosos e sim, definitivamente conseguiram lembrar-me o meu Natal!



Ingredientes:

350g de abóbora cozida
200g de açúcar amarelo
100g de açúcar branco
raspa de 1 laranja
1 colher de café de canela em pó Margão
1 colher de café de gengibre em pó Margão
1 colher de café de erva doce Margão
3 ovos
4 colheres de sopa de amêndoa moida Vahine
5 colheres de sopa de farinha com fermento

para o crumble:
8 colheres de sopa de açucar amarelo
8 colheres de sopa de amêndoa moida Vahine
6 colheres de sopa de amendoa laminada Vahine
1 colher de café de canela moida Margão
3 colheres de sopa de manteiga



Passe a abóbora com a varinha mágica e escorra bem. Coloque a abóbora com os açucares e bata bem. Junte a raspa de laranja e as especiarias e continue a bater bem. Junte os ovos 1 a 1, acrescente a amêndoa moida e por fim a farinha misturando bem. Divida a massa em forminhas de queques com uma forminha de papel dentro e prepare o crumble.
Misture todos os ingredientes do crumble com as mãos e divida por cima de cada queque. Leve ao forno pré-aquecido a 180 graus até o palito sair seco.

Na hora de servir decore com umas estrelas da Vahine!



Espero que gostem,
Beijinhos,
Su

7 comentários:

  1. Bem, agora até eu fiquei com lágrimas nos olhos Susana :) Obrigada não só pela tua participação, mas também pela tua partilha e pelas palavras que me dedicaste :) Sabes, nunca tive direito a um Natal grande assim, e sempre tive uma inveja pequenina dos meus amigos e dos seus Natais com 30 ou 40 pessoas. Em minha casa sempre fomos apenas 5, depois passámos a 6 quando o meu irmão nasceu para depressa passarmos novamente a 5 quando o meu avô morreu, e embora não trocasse o meu Natal por nada sempre quis viver um Natal grande, cheio de gente e de confusão. Entretanto cresci, e sinceramente nunca mais me senti assim. O nosso Natal somos nós que o fazemos, e desde que tenhamos connosco as pessoas que amamos então eu diria que não falta lá mais ninguém ;)

    Muito obrigada pela tua participação :)

    Beijinhos e boa semana :D

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  2. Bem ... 40 pessoas a trocar prendas ... era uma alegria! Adorei a sugestão!!!

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  3. O meu Natal também já foi assim Susana. Os tios que vinham de França, mais os que viviam cá, os avós, tantos e tantos primos, lembro-me que era feita uma grande fogueira e juntava-se ali praticamente toda a família. Com o tempo, uns partiram, outros afastaram-se e esse espirito foi-se perdendo e hoje o Natal pouco me diz. Mas enfim, tla como diz a Joana mais acima, o Natal somos nós que o fazemos.
    Esses queques devem ser uma delicia, gosto da textura que a abóbora confere ais doces. ;)
    Um beijinho.

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  4. Fantástico! :-) Sei o que é isso de famílias grandes, e também sei o que é estar longe da família. Beijinhos e bom Natal

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  5. São boas recordações e nas boas recordações existem sempre boas comidas, que nos marcam!
    Muito bonitos os teus queques, a cobertura está gulosa!!

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